Alessandra Piassarollo - ES1.com.br
01 ano e quase 02 milhões de mortos em um mundo que nunca mais será o mesmo – artigo pela gabrielense Alessandra Piassarollo

Já faz um ano que o assunto tomou conta dos nossos noticiários. Surgiu um tal vírus, desconhecido até então. Anônimo no começo, do outro lado do mundo e uma enganosa sensação de que era mais um assunto passageiro.
01 vítima, 10, 100, e o assunto não seria brevemente esquecido.
Houve a expansão da contaminação, apesar da dúvida que pairava sobre a letalidade ou a gravidade do que mais tarde se tornaria uma catástrofe de proporções mundiais.
Um mal que não respeitou fronteiras, nem as vidas sobre as quais ele se impôs. O mundo se dobrou diante dessa nova força, impiedosa e sem compaixão.
A incredulidade deu lugar à preocupação, até que o assunto assumiu todas as nossas conversas. Depois, veio a consternação quando nossos primeiros conhecidos, parentes e amigos não conseguiram escapar da contaminação.
Vieram nossas primeiras vítimas; veio o choque; o silêncio, o luto, a dolorosa sensação de impotência. Empresas falidas, projetos abandonados, portões trancados, casas fechadas. Ficamos em casa, enquanto quase tudo foi adiado ou replanejado.
Alguns abraços ficaram para depois. Outros foram suspensos, para sempre, pois não será mais possível que aconteça. A dor ficou, fica, ficará.
Não há mais o mesmo mundo de antes. Nada será igual. A história contada ao futuro causará surpresa e questionará como foi possível atravessarmos um tempo tão fúnebre e doloroso.
Muita gente não voltará para casa, não voltará ao trabalho, não verá os filhos crescerem, não mimará seus netos. Muitos casamentos não acontecerão, formaturas não serão possíveis, aniversários jamais voltarão a ser celebrados.
02 MILHÕES: quando chegarmos a esse marco cruel, não serão apenas números: serão nomes, amores, filhos, vizinhos, maridos e esposas, amigos. Serão pessoas queridas, que tinham planos e que foram levados sem a chance de se despedirem, sem a chance de dar ou receber um último abraço.
Para quem ficou, chegou a difícil hora de chorar pelas vidas ceifadas, com a consciência de que a fragilidade humana ficou terrivelmente exposta.
Não há quem seja imune, não há quem seja melhor, nem mais importante. O vírus colocou a humanidade inteira no mesmo patamar.
Seguiremos, inseguros e temerosos. Esperamos pela vacina, por piedade, pelo recomeço.
Não seremos mais os mesmos. Mas estamos tendo a chance de sermos melhores, mais humanos, mais conscientes, mais compassivos. Aprendamos a dividir, a ajudar, a socorrer. Valorizemos a vida, preciosa e rara. Valorizemo-nos!

Alessandra Piassarollo - ES1.com.br
E se eu me for agora, terei amado o suficiente?

Soube da notícia de que um conhecido havia partido dessa vida. De repente, surpreendentemente, sem nenhum tipo de aviso prévio, como a morte costuma fazer.
Fiquei imaginando se as coisas seriam diferentes na vida dele, se ele soubesse que partiria em breve. Imaginei se as coisas seriam diferentes na minha vida, e na vida de todos nós; se não deveríamos estar mais atentos ao fato de que a vida vai terminar para nós também.
Será que temos amado em quantidade suficiente? Será que temos feito o nosso melhor e aproveitado a companhia das outras pessoas? Ou partiremos deixando para trás aquela sensação de que deveríamos ter feito tudo de forma diferente?
Muito provavelmente a resposta é a de que não estamos vivendo da melhor forma possível. Poderíamos estar vivendo com prazer e com mais qualidade. Poderíamos estar pondo freios em nossa preocupação exagerada e nessa vontade de partir pra briga, contra tudo e contra todos, que temos sentido.
Deveríamos refrear nosso velho hábito de deixar coisas importantes para depois, simplesmente porque não temos nenhuma garantia de que o depois virá. E parar de alegar falta de tempo, principalmente se ele estiver sendo mal gasto.
Aprender a não guardar roupa, calçados e louças para ocasiões especiais. O momento especial é agora, porque ele nos garante vida para desfrutá-lo. Poderíamos parar de economizar o que temos de bom dentro de nós. E não deixar a vida, os amores e os sonhos pra depois. Eles não precisam ficar tanto tempo na sala de espera.
Tampouco podemos desperdiçar o tempo de agora, porque ele é precioso demais para isso. O ontem não regressará e talvez o amanhã não chegue até nós.
Engana-se quem pensa que essas verdades exigem pensamentos negativos. Mas é preciso que fiquemos em estado de alerta e deixemos despertar em nós um desejo irrepreensível de amarmos a vida e tudo o que ela nos oferece.
Que o prazo de validade determinado que nos foi imposto desperte em nós o desejo de diminuir os conflitos e de ter mais sossego interior. Busquemos a sensação reconfortante de ter nossas almas desfrutando de afeto e de tranquilidade; que saibamos reassumir o controle da nossa vida, sem sermos marionetes para o teatro sentimental de ninguém.
Não queiramos que as circunstâncias da vida tragam-nos arrependimentos por não termos sabido conduzir nossos dias. Amemos o máximo possível: A nós mesmos e às outras pessoas. Tenhamos apreço por quem somos e respeito por quem fomos. Planejemos o futuro de forma que possamos aproveitar bem todas as oportunidades que vierem, enquanto vierem.
Andemos de cabeça erguida, sem culpas desnecessárias. Esforcemo-nos para encarar todos os fatos com leveza e com a certeza de que existe uma lição a ser aprendida em cada acontecimento.
Desfrutemos da vida com a coerência de quem sabe que um dia ela terminará. E torçamos para que o acaso não se canse de nos proteger, caso continuemos a andar tão distraídos.
Alessandra Piassarollo
Administradora e Escritora